terça-feira, 3 de agosto de 2010

Para onde vamos?


Para onde vamos? Esta foi a pergunta que me fiz enquanto conversava longamente com Consuelo. Nos encontramos para tratar de "negócios". Não obstante, quando nos cruzamos, não tem jeito de deixar a conversa técnica fluir sem que se fale de outros assuntos. E o assunto que imperava se chama tecnologia.


Consuelo é um dos poucos profissionais que me faz parar por alguns momentos e repensar o ditado popular do "é vivendo e aprendendo". Para significar melhor, diria que as coisas se tornam mais fáceis de ser compreendidas quando voltamos ao passado tendo a experiência do presente em mente. Quando ela fala, mergulho num profundo silêncio para ouvir.

Recentemente houve uma onda de demissões numa emissora de TV de Goiânia. Tentei compreender o fato por sua lógica, a lógica do capital: quanto mais tecnologia, menos gente. Mas isso é pouco e insuficiente. Consuelo me disse coisas de extrema valia que eu mesmo não pensaria com tamanha facilidade se apenas enclausurasse ideias nesta mente solitária.

Segundo ela, o jornalismo como um todo, especialmente na TV, está ficando cada vez mais multifuncional. Daí prevalece a lei do mais forte: os que se adaptam com facilidade, permanecem; os que apresentam dificuldades em lidar com o que é novo, cedem espaço para os jovens da geração Y. Tudo por um simples motivo - quem vale-se de programas de informática do calibre do Avid/Inews precisa estar preparado para pensar no compasso do mundo virtual.

O que ela quis dizer com isso? Que da mesma forma que nossa leitura tem mudado com a ascensão da internet e se tornado não-linear, também devemos nos preparar para aprender a editar e construir vídeos que não sigam o ponto a ponto, a lógica encadeada, o passo a passo. Não há razão para isso, já que "posso começar uma história do final". Que será dos sistemas filosóficos de indução e dedução? Talvez a morte ou, no mínimo, a estagnação.

É a segunda vez que essa história se repete. Consuelo me disse posteriormente algo que a Carol (Zafino) já havia me adiantado: nossos raciocínios não são uma constante, não se constroem por pontos sobrepostos, mas sim do contrário, como constatou Pierry Lévy. É preciso aprender a pensar como máquinas. Em um documentário que orientou, o grupo de TCC de Consuelo prezou por essa nova dinâmica da linguagem - os alunos utilizaram cerca de três blocos de vídeo em movimento na tela, simulando a mesma dinâmica das notícias dos sites as quais nossos olhos já se adaptaram a ler.

É um pensamento denso. Me deixou impressionado. Em poucos instantes lhe perguntei de onde emanava aquele entendimento - de algo lido ou de sua própria observação? Da observação acrescida de alguns estudos já publicados sobre o assunto, me respondeu. E a sensação que tive imediatamente foi a mesma que sinto cada vez que me ponho em diálogo com pessoas sábias. Senti que havia aprendido, que é necessário parar para observar o mundo e encontrar respostas prováveis ao futuro que vai chegar, que só construo meu presente a partir do passado que vivi e que me faz reavaliar e reaprender.

Uma pergunta me veio à cabeça: os jornais impressos, então, irão acabar? Esta não a fiz. Deixei para pensar por mim mesmo. Quem sabe, a resposta será uma negativa. Num artigo de domingo, Míriam Leitão (a quem admiro e gosto de ler) dizia que o livro não é só aquele formato que persiste desde Gutemberg, mas sim seu conteúdo somado ao sentimento afetivo e ao vínculo que com ele criamos. Sua conclusão foi de que o livro como o conhecemos pode até acabar no que tange ao formato, mas não no que diz respeito ao seu conteúdo e à prática com que o utilizamos.

Cada vez que ouço Consuelo minha cabeça se abre. Fiquei mais curioso ainda para ler o recomendado livro "Tudo que é sólido desmancha no ar", de Marshall Berman (infelizmente, ainda não tive tempo). Isso prova que não aprendo nada sozinho, não posso encerrar meus pensamentos em mim mesmo. Ainda tenho muito para refletir e crescer. Só no diálogo e na observação poderei, por conjectura, tentar adivinhar para onde vamos e em que direção caminhamos rumo ao mundo virtual.

Um comentário:

  1. Oi, Thiago! Tudo bem? Vi seu blog por aqui. Gostei muito desse texto, realmente, não aprendemos nada sozinhos, temos muito ainda para refletir e crescer.

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