Lília Teles não é um nome qualquer. Advogada, professora de educação física, mãe, goiana, simpática, alegre, jornalista. Lília atingiu o ápice da carreira de repórter depois de se tornar correspondente internacional de TV Globo em Nova York, passando por coberturas que marcaram o mundo e fizeram história.
Na última terça-feira, dia 30, o magnetismo da repórter, que conquistou o mundo ao mostrar as consequências do terremoto que devastou o Haiti, foi tamanho, que fez uma plateia inteira ficar em absoluto silêncio para ouvi-la. No teatro da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Lília Teles foi recebida por estudantes dos mais diversos cursos: nutrição, fonoaudiologia, jornalismo, direito, medicina entre tantos outros. Ela conseguiu hipnotizar o público que transbordava de curiosidade, olhares atentos e uma sensibilidade infinita que transpareciam a emoção e o orgulho que os goianienses têm ao ver o maior ícone do jornalismo goiano em nível transnacional em frente de si mesmo. Lília recebeu também o apoio incondicional da família, que se fez presente dos pais aos irmãos, sobrinhos, filho (André) e primos.
A jornalista, centro das atenções, foi homenageada pela pró-reitora de Pesquisa da PUC-GO, professora Sandra de Faria e pela diretora do departamento de Fonoaudiologia, Luciana Alves Machado, que lhe rendeu um belo texto com inúmeras homenagens. Lília iniciou sua palestra, intitulada "Voz na Globalização", contando sua trajetória profissional em ordem cronológica. Ela relembrou o primeiro passo dado na carreira, quando foi repórter do jornal Diário da Manhã, passando pela então TV Goyá (hoje Record) até chegar à TV Anhanguera, onde consolidou-se como repórter.
Jovem e interessada, Lília Teles diz que nasceu jornalista: escrevia no jornalzinho da escola, era a primeira aluna a levantar o dedo quando a professora perguntava quem queria ler a lição e ainda entrevistava os familiares com um cabo de vassoura ao término da viagem para a fazenda. Lília permaneceu na TV Anhanguera de 1989 a 1997, período em que foi a segunda repórter de rede em Goiás. Depois mudou-se para o Rio de Janeiro, onde cursou jornalismo e batalhou intensamente para realizar o sonho de ser correspondente. Ela contou que lutou muito para crescer na profissão, o que lhe custou a perda de muitos momentos com a família, como a comemoração do Dia das Mães, conforme narrou em meio a gotas e gotas de lágrimas arrancadas dos olhos.
Mas foi em Nova York, como correspondente internacional da TV Globo, que Lília Teles mostrou ao Brasil e ao mundo o potencial que tem: ela participou de inúmeras coberturas marcantes, como a posse de Barack Obama, a morte de Michael Jackson e por fim, o terremoto no Haiti que mexeu até mesmo com sua estrutura emocional. Passou por momentos tensos ao chegar na capital do mundo, ainda tão amedrontada pelos atentados do 11 de setembro de 2001 que culminaram com a queda do World Trade Center. Também lá viveu momentos difíceis, como intenso frio e solidão (isso sem falar da saudade que sentia das terras quentes de Goiás quando procurava uma pamonha, e brincou - "Veja bem, num mundo tão globalizado como esse não encontrar uma pamonha como a feita em Goiás aqui em Nova York!").
Lília também falou sobre a crise financeira causada pelo setor hipotecário dos Estados Unidos, interpelando como é que um país tão rico poderia entrar numa situação de quebradeira em efeito cascata. E também a sua inacreditável recuperação. Ela lembrou ainda a cobertura das eleições americanas, quando viajou no avião do lendário John McCain, militar de 80 anos que exitava em se tornar presidente, e conheceu jornalistas do mundo todo. Na posse do primeiro presidente negro do país, ela sofreu com o intenso frio: "Foi o dia mais frio da minha vida" - disse - suportando temperatura de menos 12 graus com sensação térmica de menos 23. Seu pé estava congelado, o que a obrigou a pedir para duas senhoras cuidadosamente agasalhadas (com roupas que mais pareciam de astronautas, segundo a palestrante) que tirassem uma foto com ela na tentativa de aquecer-se. Mas reconhece que "o que valia a pena era estar fazendo parte daquela história" - cujo envolvimento convidava qualquer jornalista à tentação de estar naquela cobertura!
Para encerrar, ela tratou do aquecimento global e das nevascas perturbadoras que alteraram muitas estradas e rotinas nos EUA e Canadá. E finalmente, o momento mais marcante: a tragédia do Haiti. A este fato Lília Teles dedicou grande parte de seu discurso - entremeado por muito choro somado a alguns goles de água. "Foi a cobertura mais importante que fiz na minha vida e a mais triste", resumiu. Ela conta que é como se encontrasse um país completamente destruído, como se tivesse sido bombardeado, e do qual as pessoas não tiveram como sair e se defender. "A minha vontade era de gritar e chorar". Lília recordou o resgate da enfermeira haitiana, um dos mais emocionantes, e também de três crianças que foram soterradas por um prédio de três andares. Não é à toa que a capa da revista da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) trouxe sua foto com a legenda "A Lília salvou essa mulher".
A notícia sobre a tragédia do Haiti correu o mundo em poucos minutos, configurando uma equação balizada pela voz na globalização. Lília agora descansa e aproveita o período de férias antes de voltar para o Rio de Janeiro. Ela curte a família em Goiânia, visitará a Cidade de Goiás para reviver a procissão do fogaréu e no momento escreve um livro para lhe ajudar a extravasar a catarse que encheu seus olhos de dor em Porto Príncipe. Ela foi substituída pelo novo correspondente, Flávio Fachel. Mas é certo que, se na época da morte do cantor Leandro, ao revê-la os goianos gritavam esbaforidamente "volta, Lília", "volta, Lília", agora ficou eternizadamente imaculada no coração desse mesmo povo que a recebeu com tanto carinho na noite de ontem! Lília Teles oxigenou as expectativas de vários estudantes de jornalismo que pretendem fazer carreira na profissão e retribuiu à altura os gestos atenciosos recebidos por seu público. Sem sombra de dúvida, Lília Teles está no coração de Goiás.